Vale a pena virar um programador em 2025?

Este post é uma conversa honesta sobre como o mercado de desenvolvimento mudou, o que a IA realmente significa para programadores, e por que 2025 pode ser o melhor ano para entrar na área, se você estiver disposto a fazer o trabalho de verdade.
O Apocalipse da IA
A cada novo modelo de IA que é lançado, o Twitter explode com o mesmo papo. "Acabou para programadores." "IA vai substituir desenvolvedores." "Escolhi a carreira errada." E aí vem o próximo modelo, e o ciclo se repete. De novo. E de novo. E de novo.
Não vai acontecer. Não agora, não tão cedo.
As IAs estão anos-luz de distância de substituir programadores. Elas são incríveis para gerar código padrão, ajudar com sintaxe, e até sugerir soluções para problemas comuns. Mas substituir um desenvolvedor? Isso requer entender contexto de negócio, tomar decisões arquiteturais, debugar problemas complexos, comunicar-se com stakeholders, e ter aquela intuição de quando algo não está certo no código.
Mas, as IAs mudaram drasticamente o padrão mínimo necessário para entrar no mercado.
O Novo Padrão Elevado
Lembra de 2019? Época boa. Você aprendia HTML, CSS e JavaScript básico, fazia um portfolio com três projetos copiados de tutoriais do YouTube, e conseguia uma vaga de júnior.
2025? Esquece.
Esse conhecimento básico não é mais suficiente nem para um estágio decente. E antes que você pense "isso é péssimo!", deixa eu te dizer: isso é ótimo.
Por quê? Porque a IA elevou o nível, e isso criou uma oportunidade massiva para quem está disposto a se esforçar além do básico.
Hoje em dia, o desenvolvedor médio, aquele que aprendeu o mínimo necessário e parou por aí, está lutando. Ele sabe React, Mas só o básico. Ele usa TypeScript, mas não entende realmente o porquê. Ele copia soluções de LLMs sem entender o porquê elas funcionam.
A IA consegue fazer isso também. Então qual o valor desse desenvolvedor?
A Oportunidade Escondida
Em 2025, o espaço para quem se dedica a se especializar de verdade em uma área é gigante.
Quando você realmente entende um domínio — seja performance web, arquitetura de sistemas, acessibilidade, segurança, animações complexas, state management, ou qualquer outra área — você se torna valioso. Muito valioso.
A IA pode gerar código. Mas ela não pode:
- Projetar uma arquitetura escalável que vai suportar seu produto pelos próximos 5 anos
- Debugar um problema de performance que só acontece em produção com 10.000 usuários simultâneos
- Entender os trade-offs entre diferentes soluções no contexto do seu negócio
- Tomar decisões que equilibram velocidade de desenvolvimento, manutenibilidade e experiência do usuário
Isso requer conhecimento profundo. Experiência. Intuição. Coisas que você só desenvolve quando realmente se dedica a entender uma área de verdade.
Soft Skills
Aqui vai uma estatística que eu tirei do ar mas sei que é verdade porque vivo isso.
70% dos desenvolvedores que entrevisto têm conhecimento técnico suficiente para trabalhar como júnior. Talvez 20% têm as soft skills necessárias.
Você pode ser um gênio do código. Pode conhecer 15 frameworks e 8 linguagens de programação. Mas se você não consegue comunicar suas ideias claramente, trabalhar bem em equipe, ou receber feedback sem ficar na defensiva, você vai ter dificuldade. Muita dificuldade. Se você não sabe explicar conceitos técnicos para não-técnicos, gerenciar seu próprio tempo e prioridades, fazer as perguntas certas, ou admitir quando não sabe algo, o conhecimento técnico sozinho não vai te salvar.
E isso é outra oportunidade gigante. Porque enquanto todo mundo está obcecado em aprender o framework mais novo, quase ninguém está investindo em melhorar suas habilidades interpessoais. Todo mundo quer ser o desenvolvedor que resolve tudo sozinho, mas empresas precisam de pessoas que sabem trabalhar em equipe.
Seja o desenvolvedor que realmente ouve antes de propor soluções. Que documenta seu código de forma clara porque sabe que outras pessoas vão ler aquilo. Que dá code reviews construtivos em vez de apontar o dedo para erros dos outros. Que faz onboarding de novos membros de forma efetiva. Que comunica proativamente problemas e bloqueios antes que eles se tornem crises. Que colabora em vez de competir com os colegas de equipe.
Esse desenvolvedor vale ouro no mercado.
O Mito da Experiência
"Como vou conseguir entrar no mercado de desenvolvimento se ninguém contrata alguém sem experiência?"
Eu entendo a frustração. De verdade. Mas a verdade inconveniente é que você pode criar sua própria experiência. Construindo projetos. Resolvendo problemas. Aprendendo na prática.
"Mas eu não tenho ideias para projetos!"
Você não precisa inventar o próximo Instagram. Faça coisas simples:
- Um gerenciador de senhas
- Um jogo simples no navegador
- Uma cópia simplificada de uma rede social
- Uma API para gerenciar uma biblioteca
- Um dashboard com gráficos e visualizações
- Uma extensão do navegador que resolve um problema seu
- Uma ferramenta de linha de comando que automatiza algo chato
O projeto em si é quase irrelevante. O que importa é que você o fez do início ao fim, que você pode explicar as decisões que tomou, que você enfrentou problemas reais e os resolveu, e que o código está no GitHub, documentado, com um README decente.
Isso é experiência. Você pensou em arquitetura. Você tomou decisões de design. Você debugou problemas. Você aprendeu algo novo quando enfrentou um obstáculo.
Uma pessoa com 5 projetos pessoais bem feitos demonstra mais capacidade que alguém com "1 ano de experiência" que passou esse tempo fazendo o mínimo possível.
Conclusão
2025 é um ótimo ano para ser desenvolvedor. Mas é um ano terrível para ser um desenvolvedor medíocre.
A IA elevou o padrão. A competição aumentou. As expectativas são maiores.
Mas para quem está disposto a fazer o trabalho de verdade, aprender profundamente, se comunicar bem, construir coisas constantemente, e se importar com qualidade, as portas estão escancaradas.
O mercado não está saturado de bons desenvolvedores. Está saturado de desenvolvedores medianos que acham que são bons.
Seja bom de verdade. O resto é consequência.